Firmina #45 - Representatividade LGBTQIA+ e os ataques à linguagem neutra
Você é daquelas pessoas que revira os olhos quando ouve um “boa tarde a todos, todas e todes?” Atacada principalmente por conservadores e por reacionários - mas também por quem se entende como progressista -, a linguagem neutra é um movimento que vem crescendo e inclusive sendo adotada em falas de integrantes do governo.
A gente aqui na Firmina - e na redação do Nonada - até entende porque ela incomoda, mas depois que a gente foi atrás de compreender a importância da linguagem neutra para os não-bináries (pessoas que não são do gênero feminino nem do masculino), a gente pesquisou mais e descobriu inclusive que as Línguas Portuguesas faladas no Brasil são vivas, e a linguagem neutra é apenas uma variação dessa diversidade expressa no nosso modo de falar.
Ou seja, ninguém vai ficar mais burro porque ouviu um professor ou artista falar “todes”. Nesta edição, a gente aprofunda um pouco esse debate colocando a linguagem neutra em perspectiva com opiniões de especialistas na área das Letras.
Foto: bandeira não-binárie (Florencia Salto/reprodução)
Liberdade educacional
Entre 2020 e 2022, 45 projetos de lei que pretendiam proibir a linguagem neutra foram propostos por deputados estaduais no Brasil. O levantamento é da Universidade Federal de São Carlos. O portal G1 mostra que todos os projetos foram criados por pessoas da direita ou extrema-direita. Em Porto Alegre, a lei que proíbe a linguagem neutra em espaços de ensino estaduais foi sancionada em dezembro e já está em vigor.
O STF deve decidir a partir de 3 de fevereiro sobre a proibição da linguagem neutra em escolas de Rondônia. O caso é estadual, mas pode criar jurisprudência nacional. A lei aprovada em Rondônia está suspensa até que o caso seja decidido no plenário virtual do STF. Segundo o Instituto Brasileiro de Direito da Família (com informações do portal Migalhas), ao suspender a lei, o ministro relator do caso, Edson Fachin, “considerou que a norma tem aplicação no contexto escolar, ambiente em que, segundo a Constituição, deve prevalecer não apenas a igualdade plena, mas também a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber.”
O Portal Gaz entrevistou a professora Rosângela Gabriel, coordenadora da pós em Letras da Unisc, justamente para entender o que é a linguagem neutra. “É uma tentativa de, por meio da linguagem, manifestar uma posição de inclusão, de tentar incluir as diferentes identidades que compõem o tecido social”, explica. Vale muito a leitura.
Há dois anos, o Nonada Jornalismo também entrevistou especialistas em Linguística, que contextualizam a linguagem neutra no âmbito das mudanças que a Língua Portuguesa sofreu na sua história.
Liberdade religiosa
Candomblecista, a cantora Anitta gravou seu novo clipe com referências a religiões de matriz africana. A Veja conta que ela sofreu ataques nos próprios posts dela nas redes sociais. A revista preferiu não reproduzir os discursos de ódio.
A agência BBC fez uma matéria especial com relatos de racismo religioso no Brasil. “Em julho de 2022, a entidade [Renafro] divulgou o relatório "Respeite o Meu Terreiro — Mapeamento do Racismo Religioso Contra Os Povos Tradicionais de Religiões de Matriz Africana", que ouviu lideranças de 255 comunidades tradicionais de terreiros, no qual 78% dos entrevistados relataram que membros de suas comunidades já sofreram algum tipo de violência, física ou verbal, por racismo religioso”, aponta a reportagem.
A Pública tem uma editoria específica para abordar o poder religioso. Confira.
Liberdade artística
Em entrevista à Agência Brasil, a Secretária Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+ do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, Symmy Larrat, falou sobre políticas para a área e sobre os ataques que a comunidade sofreu no último governo, inclusive no campo da cultura. “A cultura tinha um comitê técnico LGBTQIA+, que ajudava, dentro da estrutura dos ministérios, a identificar onde a gente podia avançar, colaborar e existir. E a outra é a mudança na condução desse processo. Quando a gente vê uma ministra como a Margareth Menezes, que sempre fez campanhas contra a violência contra a população LGBTQIA+ no período do carnaval, a gente tem a confiança de que essa postura vai ser alterada com muita brevidade”, avaliou. Uma das diretrizes oficiais da nova secretaria é o apoio à cultura LGBTQIA+.
Uma mulher trans foi impedida por seguranças de usar o banheiro feminino na quadra da Viradouro, no Rio de Janeiro. Em um vídeo difundido nas redes sociais, dá pra ver o momento em que a mulher tenta argumentar e acaba sendo expulsa da quadra. Em nota publicada nesta quarta (1), a Viradouro informou que “a presidência informa que afastou os seguranças diretamente envolvidos neste caso inadmissível. Reiteramos que nossa quadra é um espaço de acolhimento, de alegria e de respeito à diversidade. Atitude como a de ontem não expressa o espírito da nossa diretoria e tão pouco da nossa comunidade.”
Extra
A cultura não está só nas cidades. Ela também encontra espaço para florescer nos assentamentos, no pampa, no cerrado, nas casas de pequenos agricultores, nos quilombos. Na semana passada, pontos de cultura rurais se reuniram para pensar políticas de retomada para a área e continuar incentivando o fazer cultural nas comunidades rurais do Brasil. (Nonada)
O Brasil ganhou seu primeiro museu de arte e história trans. O MUTHA é um dos únicos no mundo e é inclusive procurado por artistas de outros países. O museu integra um mosaico de instituições museológicas com foco em memória LGBTQIA+ no Brasil, como o Museu Bajubá, o Arquivo Lésbico Brasileiro e o Museu da Diversidade Sexual. As entidades sobreviveram a um período difícil com poucos recursos e apoio de leis emergenciais. (Nonada)